quinta-feira, setembro 18, 2008

Crítica a vida corporativa.

Isto émais um desabafo do que uma idéia construída.

As pessoas sabem a cotação do dólar, as prováveis fusões que acontecerão, acompanham as bolsas de Londres, New York , Tókio e porque não dizer a BM&F? Mas não sabem o nome do porteiro do prédio onde residem.
Contam aos amigos o que conseguiram fazer no trabalho, coisas como diminuír o gasto do departamento em 7% mês passado, minha empresa se tornou a maior em seu segmento, discutem o orçamento e os planos da empresa que comandam, mas não sabem quantos filhos a empregada sustenta com o salário que ganha limpando a casa deles.
A preocupação de todos parece ser quais certificações tirar, e como o mercado vê tais coisas. Perguntas como, ganharei mais se me certificar nisso ou naquilo? Que cargo posso almejar com as certificações que tenho?
Os sonhos que antes eram, quero ter uma familia, ser respeitado por meus filhos, e amado pelos amigos, hoje se tornou, quero ser CEO de uma grande CIA, ou ter aquele carro que não tem cara de tiozão. Me pergunto, será que a familia o respeitará por ser CEO, ou os amigos o amarão por ter o carro?
Ouço termos como economia de escala, aumento de produção para maximização dos lucros, as conversas giram em torno do que a empresa onde trabalham se tornará, e qual a contribuição que as pessoas dão para tal feito. Quando a conversa toma o rumo pessoal, parecendo uma tentativa desesperada da alma ainda humana, as pessoas versam de como a familia reclama da distancia que eles estão de “acontecimentos pequenos”, como o primeiro passo do filho, o almoço de Domingo que ele perdeu por estar no trabalho preparando uma apresentação importante para Segunda-Feira. Ou a mulher que o abandonou, o filho que fica no computador enquanto ele janta correndo pra poder terminar algo do trabalho que não conseguiu durante o dia, e o chefe precisa para o dia seguinte sem falta. Ou seja, é sempre pra reclamar do que a vida pessoal deles se tornou, e do quanto atrapalha a vida profissional. Mas logo voltam para o assunto principal, como que para fugir do que os incomoda.
Quando penso nisso me lembro de uma música que ouvi décadas atrás do Caetano Veloso:
Alguma coisa esta fora da ordem, fora da nova ordem mundial!!
É, e suspirando percebo que sou eu que estou fora da nova ordem mundial!!
Pois ao meu ver, ser CEO de uma grande empresa só me faria menos humano do que fui ao completar 10 anos de idade. Hoje com mais de 30, tenho medo das coisas que consegui no trabalho. Por saber que cada vitória, cada cargo que consegui, significou algo que não consegui como ser humano. Perdi valiosos momentos com minha familia para entregar algo no prazo.
Perdi amigos por não ter tempo de visitá-los, perdi possíveis amores por não estar onde elas estariam. E o que ganhei?
Quero a partir de hoje, dizer não aos prazos, não as informações que não me acrescentem à alma um fator humano. Será que é tarde?? Será que por trás desse Rato corporativista ainda pulsa uma alma humana? Essas perguntas me assolam a noite me impedindo de dormir.
Gostaria que não incomodassem a mais ninguém!!


Kleber Pereira Ribeiro

3 comentários:

Will Wroblewski disse...

Outro dia um psicólogo numa roda de amigos me disse que essas questões (eu as estava argumentando naquele momento), remetem à crise da meia idade masculina. Pois bem, sou precoce mesmo. Nasci prematuramente, aprendi a ler antes de ir pra escola e trabalho desde que me entendo por gente. Trabalhar sempre foi um valor muito forte e constante na minha vida. Mas o corporativismo e o trabalho são coisas completamente diferentes. A primeira se presta a politicagem baseado em status organizacional, para a auto afirmação dos sujeitos que não se deram bem em outros aspectos da vida pessoal. Tapetes são puxados, complos armados, árduas horas sem descanso para produzir relatórios e gráficos dignos de serem discutidos por acéfalos que colecionam canudos e certificados. As reuniões nas mega-transnacionais parecem um teatrinho infantil, mas o resultado prático é que sempre o Rico Gringo FDP vai tirar do seu salário e do seu suor pra garantir a lucratividade. Já o trabalho, o tal que enobrece o "homem" esse sim eu respeito. O sujeito homem realiza, constrói e é responsável por aquilo que se propõe a produzir. Acorda cedo, bota a armadura, vai pra arena e busca o sustento da sua familia e dorme tranquilo, corpo cansado, alma lavada, consciencia leve. E seu objetivo nunca é ser melhor que ninguém, é ser bom como ele é, e as superações são íntimas, o verdadeiro trabalhador não assimila a cultura do LOOSER or WINNER !!!
Eis a diferença entre um homem e um rato.

Unknown disse...

"O sujeito homem realiza, constrói e é responsável por aquilo que se propõe a produzir."

Sábias palavras, meu caro.

Eu acredito que, ao contrário do que dizem, o homem não é produto do meio. O meio é que é produto do homem. O homem de hoje - podre como é, preocupado com coisas que tem preço mas não tem valor - foi quem contruiu esse mundo deprimente em que vivemos.

Hoje, conversando com um colega, disse que eu prezava e tentava ser o mais altruísta possível. A resposta do cidadão foi: "Altruísmo não vai colocar o pão na sua mesa."

Enquanto tivermos homens como esses no mundo, realmente estamos perdidos.

Espero que um dia o homem acorde para a Vida e passe a ser Homem e não mais homem. Espero que um dia, acabe esse sistema capitalista consumista maldito. Que todos cumpram a sua função útil no meio em que estão, não a troco de papel, mas pelo privilégio de servir ao próximo.

Talvez esse dia não esteja tão longe...

Will Wroblewski disse...

Antonainow,

E não é que o RSS funciona mesmo?

Pode ser em breve, no próximo dia 14. Um contato de Andromeda me disse que vão chegar umas naves cabulosas no céu da terra, os malucos vão dar um puxão de orelhas nos lóqui verme daqui e as coisas vão mudá!