terça-feira, setembro 25, 2007

Mano Brown no Roda Viva

























Ontem eu parei tudo pra ver o INENTREVISTÁVEL Mano Brown, dos Racionais Mc's.

Os Racionais MC's já beiram os vinte anos de carreira e só agora a grande mídia pensa em ouvi-lo. Claro que não sou ingênuo de pensar que no próximo domingo ele estará no Faustão, o fato é que se trata de um programa respeitável, o Roda-Viva da TV Cultura.

Fiquei tremendamente curioso como o Brown iria se sair nessa, mais curioso ainda com os convidados entrevistadores. Entre eles, destaco apenas o Paulo Lins como alguém que conhece a realidade das periferias na carne, o resto, por melhor intencionado, só conhece a miséria pelo cinema, literatura e jornais, claro, com visões bem limitadas.

Percebi um Brown nervoso, inquieto e muito, mas muito "de segunda". No lugar dele acho que não reagiria diferente. Os dois primeiros blocos do programa foi de entrevistado e entrevistador pisando em ovos, ninguém se propôs a ir para o ataque. E como o próprio Brown disse, quando começou a se soltar, tava até "SUAVE", para um Roda-Viva. Ficou claro uma contradição pessoal sobre um tema muito complicado chamado liderança (o cagaço da elite), não sei se é uma estratégia de defesa, mas o Brown não quer o posto de líder da revolução, nem de referência para os jovens da periferia, ele se diz livre, um artista que vive da musica, mas inevitavelmente, a realidade mostra o contrário. A responsa é inevitável. E ele sabe o que é cobrança.

O que a grande mídia esperava, infelizmente não aconteceu, o episódio da Praça da Sé nem foi mencionado.. hahahahahahahah

Eu destaquei alguns trechos do Brown que me marcaram, mas que muitos não irão compreender fora do contexto... mesmo assim fica aqui registrado para pensarmos (claro que não conseguirei repetir com as mesmas palavras...):



"A periferia melhorou um grão de areia dentro do que precisa ser melhorado"

"A gente canta a rua e vive a rua, encontra a rua. Tudo que você fala, volta."


"Num vou dizer traficante, vou dizer comerciante. O cara é um comerciante como outro qualquer. "

"Os caras da Ambev, da 51, não vão pra cadeia. Toma 4 garrafas de cerveja pra você ver, cê vira o Superhomem na Marginal. Não vão pra cadeia porque não são pretos. "

"Hoje cê é jornalista, tá legal, amanhã cê num sabe. Pode estar no beco dos tristes também. Pra que condenar? Prefiro ouvir o que os caras tão pensando. "

"Hoje eu já não penso que o cara tem que protestar sempre no rap. Também precisa garantir o dele. O que um garoto que tá começando, escrevendo dentro do quarto dele, vai falar da vida, dos problemas sociais? É um fardo de 200 kg nas costas dele. "

"Branco, Preto é tudo a mesma coisa. Quem tá com nóis, se veste igual, anda igual, fala igual e tem os mesmos problemas, é tudo preto, não importa se tem o olho azul. "

A "finada" classe média aceita o RAP porque é decadente e tem que entender o que o empregado, o jardineiro, o motoboy diz, ele agora tem que pegar buzão, não dá mais pra se enconder dentro dos seus castelos. "

"O CEU é um castelo. É o que eu descrevo no Domingo no Parque. A Marta perdeu a eleição porque descasou, casou de novo com um argentino, as pessoas pensaram muito nisso. Agora, se vai dar resultado a gente vai ver daqui a 20 anos, se vai sair um Beethoven de lá. "

"As contradições só acabam quando a gente morre. "


segunda-feira, setembro 24, 2007

Tropa de Elite II - cont...

Foi uma ótima experiência escrever sobre algo que ainda não havia visto.
Percebi que minha visão sobre a polícia não é nem um pouco equivocada, porém o filme traz mais informações pra confirmar e compor o cenário da situação das instituições públicas responsáveis pela segurança pública. Um argumento muito forte do filme que vale à pena pensar é sobre as prioridades das instituições, ou seja, eles se preocupam antes de mais nada com os problemas internos eles, depois com as ordens das classes políticas, depois com os "acordos" de arrego/propina, o qual coloca os Aspirantes nas condições que citei anteriormente: Ou o cara aceita ser corrupto, ou se omite, ou ainda... vai para a guerra e em nenhuma delas, é possível valer a lei. Enquanto a ultima, a guerra, só lhe permite uma sobrevida se o oficial for capaz de "aplicar a lei sumariamente", mesmo transgredindo a própria lei, a qual não prevê a pena capital.
E em ultima instância, a preocupação da policia militar é para com a população e sua segurança.

Outro fatores importantíssimos, são as facetas das ONGs, da classe média e da indefectível população da Zona Sul que mal entende os pobres e viciados noticiários televisivos e ou dos jornalecos direitistas que se preocupam apenas em vender.

Os extremos e estereótipos do filme são fantásticos, gostei do enredo, da fotografia, da trilha sonora (Tihuana), do elenco e mais uma vez tenho que tirar o chapéu para o Wagner Moura.

Desde o momento que vi o filme até agora, revivo na minha cabeça uma raiva terrível, que transcende várias questões como a própria criminalização dos viciados em drogas, o cotidiano violento do qual eu escapei, mas muitos amigos de infância não. Também volto a me auto-questionar quanto a ascensão social obtida com tanto sacrificio e trabalho, a qual me tirou das estatísticas e me integrou à famosa classe média. E é aí que moram os conflitos, pois essa classe média que convivo é tão tapada e ignorante que não consegue compreender a própria burrice e culpa no que diz respeito à "questões sociais". Gastam mais num jantar do que o montante que pagam para seus empregados e não querem que os filhos destes tenham má índole e vivam na marginalidade.

Num resumo, poderia dizer que o filme expressou uma séria de questões que demandariam diversos debates. Mas as próprias circunstâncias do filme denunciam a diferença entre a vitima rica e a vítima pobre da violência. A primeira merece sempre cobertura televisiva e protestinhos com camisas brancas. Já o segundo, é um alívio para o Estado burguês, que pensa que um pobre morto é um pobre a menos. ERRADO!!! Um pobre morto ou preso representa no mínimo um orfão a mais (promissor bandido), sem considerar, é claro, o circulo-vicioso da justiça feita à bala dentro dos bairros que há tempos não acreditam nas intituições que se não os ignoram, os humilham constantemente.

Fecho reafirmando que no meio dessa porra toda, salvo raras exceções, só morre pobre, seja ele traficante, policial, trabalhador ou não.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Tropa de Elite

"Tropa de Elite" filme de José Padilha, o mesmo diretor de Ônibus 174 traz para as telas do cinema uma visão do cotidiano dos oficiais do BOPE - Batalhão de Operações Especiais.

O BOPE que tive o desprazer de conhecer pelas páginas do livro ABUSADO de Caco Barcelos, é uma versão carioca dos carniceiros da ROTA paulistana, tem fama de incorruptível e bem treinada. Fama.
Houve tentativas de boicote às filmagens por policiais que temem ver a imagem da corporação denegrida, há outros que já viram o filme - que vazou na internet antes da pré-estréia - e acreditam ser um bom retrato da vida desses pobres diabos, chamados oficiais de segurança pública.


O BOPE, se não me engano são os mesmos que utilizam o "Caveirão", aquela máquina de guerra horrível que parece a carruagem do diabo. Não quero sentar o pau na imagem da polícia, de forma alguma. Eu nunca morei no RIO e não posso encher a boca pra falar do BOPE, mas sei o que é a ROTA, a CHOQUE e a Tático Sul de Sampa, e te garanto, não tenho motivo algum de orgulho, muito menos me sinto seguro na presença deles.

Minha medíocre opinião sobre a policia começa a partir das retóricas sobre sua própria origem e lema de "Servir e Proteger", só que eu nunca fui servido ou protegido por eles, e creio que grande parte da população também não. Também vejo a policia como a única política publica que efetivamente chega nas favelas e morros... Só que eles nunca aparecem pra ajudar, é sempre com o pé na porta, tapa na cara, etc.
Existem fatores interessantes para se pensar sobre a figura do agente de segurança pública que não fica atrás de uma mesa, ou seja, de quem vai pra guerra todos os dias nas grandes cidades brasileiras. Quem são esses homens? Qual a origem deles? Quais motivos o levaram a escolher tal carreira profissional? Inclinações heróicas ideológicas, situação financeira, status, poder ou o que?
Por que se pensarmos o que leva um cidadão a se tornar policial, veremos que em muitas vezes o sujeito busca uma ascensão social e um status (inabalável) que lhe confere poder de "OTORIDADI", eis a pobre psique do ser humano, querer servir a lei para estar acima dela, hahaha.
Outra perguntinha boba me veio à mente, por que será que sempre encontramos policiais envolvidos nos grupos de extermínio?
Penso que eles são tão vítimas quanto o resto da população, onde as leis são completamente falhas e as instituições judiciárias e prisionais são tão vergonhosas que só agravam todos os nossos problemas relativos à segurança pública e violência urbana.


Não vejo necessidade nenhuma de citar detalhes sobre a Candelária, Carandiru, chacina da baixada fluminense, ou qualquer outra chacina escancaradamente de responsabilidade dos fantoches fardados, nem mesmo sobre os grupos de extermínio de São Paulo, Salvador e a sinergia entre o crime organizado e as "otoridadis".

Houve até confusão com a instituição em questões privadas que envolvem o filme onde a Justiça foi solicitada e atuante [incrível]. Pois os policiais queriam ver a pré-estréia à força, digo solicitaram dentro dos tramites legais hehehe.... E não conseguiram... kkkk. Isso denota o quanto infantil, falho e viciado é o nosso mundinho de mocinhos e bandidos, com juizes, advogados, policia e blábláblá...

Durante as filmagens houve seqüestros (da equipe), armas roubadas, etc. Fico só imaginando a galera da favela empolgada com as filmagens e a policia cagando de medo de se expor mais. E aqueles malucos filmando e se deparando com a realidade onde as balas não são de festim tão pouco os figurantes são meros figurantes.

E assim entra para o nosso HALL de "Retratos da realidade Brazileira" (com "z" mesmo!) mais um filme que não traz esperança, que não mostra saída e que no final será exportado para o mundo e novamente os demagogos irão criticar o fato de o Brasil ser sempre retratado aos avessos... Outros ficarão eufóricos com a possibilidade de concorrer ao Oscar [kkkkkkk]. E que mesmo assim irá comover ou convencer menos que a novela das oito (ou seria das nove?).


O que poucos sabem é que a guerra civil já está em curso há alguns anos, só que nessa guerra ninguém almeja nada além da própria sobrevida. E o mais triste é que mesmo tendo bandido contra bandido, sejam eles policiais ou não, o saldo de mortos sempre é de pobres. A classe média fica apavorada, puta e eternamente alienada, os cuzões exploradores magnatas só querem saber do seu payground aqui no Braza e dos seus investimentos pra sustentar suas excentricidades. E as “alas definitivamente esquecidas” da sociedade, têm um saldo de mortos maior que a guerra do Bush. Nestas "alas definitivamente esquecidas" residem os provedores de alegria da burguesia, ditos traficantes e toda sua estrutura (do vapor ao gerente da boca), a população das periferias e favelas, os próprios soldados (e toda a baixa patente) das policias e como não podemos nunca esquecer, reside também a VERGONHA NA CARA (assassinada pelos governos, bem antes de existir governo).

Quem adora cinema como eu, entre a realidade fictícia e ficção das verdades a serviço da hipocrisia, no final fica contente com mais uma produção nacional, mais uma tentativa de documentar nossa desgraça e claro, com o atrasado protesto.

Termino com alguns dos gritos de guerra do BOPE:

O interrogatório é muito fácil de fazer/pega o favelado e dá porrada até doer/O interrogatório é muito fácil de acabar/pega o bandido e dá porrada até matar.

Esse sangue é muito bom,/ já provei não tem perigo/é melhor do que café,/ é o sangue do inimigo.

Bandido favelado/ não se varre com vassoura/se varre com granada,/ com fuzil, metralhadora

SALVE O LINDO PENDÃO DA ESPERANÇA ??????? não não e NÃO

hahahahah não sacaneia... já não basta o Coronel do BOPE se chamar Príncipe????

quinta-feira, setembro 06, 2007

Vou estar te transferindo....

Antes de criticar o "gerundismo", vale à pena fazer uma breve reflexão sobre o trabalho dos atendentes de telemarketing. O telemarketing, hoje, disputa a mão de obra com o tráfico de drogas.

Já ouvi e reproduzi várias chacotas sobre o incomodo que é o tal telemarketing ativo, ou seja, aquele que te empurra serviços e produtos goela à baixo, ou o passivo, quando você fica horas esperando na linha e sempre é direcionado ao próximo atendente e tem que repetir (tem que estar repetindo... hehehe) toda a história e seus dados mil vezes... Esses problemas acho que todos já se depararam alguma vez, mas o que me encoraja a escrever este post é o que penso sobre este "Mercado de Trabalho" e não sobre o gerundismo.

- Só um minuto....

[silencio]

- Obrigado por aguardar, o post vai estar começando agora.


Vale lembrar que esse mercado de trabalho é o destino de muitos jovens pobres das grandes cidades. Tal como no tráfico, o trabalho é desumano e em horários e escalas absurdas que chegam a impedir que o jovem estude. E tal como no tráfico, tem sempre um monte de abutres ganhando grana terceirizando sua mão-de-obra e detonando com os direitos trabalhistas dessa moçada. E em ambos os casos, o jovem entrega ao cliente, como produto final, uma verdadeira "droga", e tal como nós (usuários), somos todos vítimas.

A culpa é de quem?

Minha que não é, logo vou estar lhe transferindo para outro departamento responsável pela culpa. O revoltado mané agradece a sua atenção em ler as linhas acima, tenha um bom dia, até logo!