sábado, outubro 30, 2010

Quer me foder me beija!!!!

Tropa de Elite 2, não tenho como deixar de opinar aqui. Há várias coisas importantes para mencionar, ficaria dias escrevendo. Análise técnica, política, repercussão e o que representa essa obra no inconsciente popular, enxuguei o que realmente acho que vale à pena compartilhar.

Tecnicamente o filme é muito melhor produzido que o primeiro, afinal com dinheiro é tudo mais fácil. O roteiro que nunca foi o fraco do Padilha, melhorou e muito. A fotografia do filme não é o ponto forte mas não caberia nenhuma crítica também.

O enredo que passou a ter uma concepção invertida é o ponto forte da obra (minha opinião). Invertida por que no primeiro filme trata-se de uma biografia documental narrada em primeira pessoa que ganha uma estória para caber na telona, parecendo uma ficção que retrata a verdade, quando sabemos que de tão verídico parece ficção.
No Tropa 2, o filme é escancaradamente uma ficção baseada ou "fundamentada" no cotidiano de nossas instituições públicas. A paranóia difícil de se assimilar é que já esperávamos um filme de "denúncia pública" das nossas mazelas com uma "ar" de ficção e outro tapa na cara de todos os brasileiros. (Pede pra sair!!! ).

Seria fácil tentar analisar tecnicamente o filme, principalmente comparando o primeiro, mas me lembrei que escrevo aqui quando quero dividir o que penso sobre as coisas da maneira que vejo. O que vejo vai muito além do filme dirigido pelo José Padilha.

Essa "modinha" de denuncia por denuncia me incomoda. Me parece com vizinhas falando mal de alguém do bairro. É mero exercício de falta do que fazer. Paramos para assistir novamente nossa desgraça, se revoltar ou achar graça e, depois, continuamos nossa vidinha sem nenhuma mudança.
E se já não bastasse a miséria esfregar a cara na sua porta todo dia, você ainda pode vê-la no jornal, na revista, na TV com tragédias narradas ao vivo. A ultima moda do brasileiro é ver sua própria tragédia comendo pipoca. Acho muito mais sádico isso do que uma guerra civil.

Vejo o nosso "jeitinho brasileiro" sendo tão efetivo que pegamos fila e pagamos para ver o espetáculo da nossa ignorância e, no final vamos torcer para o mundo ver e nos premiar.

Esse jeitinho brasileiro funciona de dentro pra fora, ou seja, dizemos a nós mesmos que já sabemos de todas as denúncias do filme. Interiorizamos e nos identificamos com o antigo herói da farda preta quando ele realiza o sonho enrustido de todos brasileiros descendo a porrada no político canalha (que também é um "cara da mídia"). Neste momento a adrenalina sobe e chegamos a um semi-orgasmo cívico. E é aí que o ser humano se mostra covarde, e o retrato não poderia ser melhor, afinal o Nascimento perde a linha quando o negócio é com a familia dele. Por que assim somos, enquanto a água não chega na minha casa, foda-se quem vive mais perto do córrego, azar o dele.

Ainda no mundinho interior de nossas hipocrisias e covardias enraizadas, nos colocamos como vítimas de todos os tipos de malandragem, em todos os níveis. Não conseguimos assumir ao outro que somos todos cúmplices da mesma covardia apática que permite algum "esperto" fular a merda da fila da pipoca sem que alguém se manifeste. E seguimos cúmplices de nossa covardia e ignorância enquanto não temos alguém para julgar, culpar e executar em praça pública.

E ainda ficamos mais frustados ainda quando constatamos que a ética e o bom senso nos garante o rótulo de otário.

Para terminar, lembro que cometemos no cotidiano um suicídio coletivo de nossa cidadania e auto-estima. Que de tão surreal que pareça minha paranóia escrita acima, o mais difícil é aceitar que o "cidadão brasileiro" não passa de um aborto que vaga nesse continente como um órfão fantasma e sem identidade e ainda acha que seu voto será responsável pela mudança disso tudo.

Aguardarei que o próximo ladrão ou político continue me fodendo, mas agora eles sabem: - QUER ME FODER, ME BEIJA!!!!

Um comentário:

Caio Calazans disse...

Bom, eu andei lendo algumas coisas ultimamente que tinham muito a ver com o filme. Os últimos 3 livros que li em algum momento falavam da corrupção policial e da estrutura do tráfico no Rio. Acho que existem avanços. O brasileiro hoje já nao aceita mais qualquer coisa. Essa eleição a meu ver mostrou um pouco isso. Apesar das denúncias, apesar do forte movimento da grande mídia e da campanha suja feita na internet para eleger José Serra, o povo brasileiro não está caindo nessa. Muita coisa mudou no país nos últimos anos. É claro q muita coisa ainda precisa mudar, somos uma democracia ainda nova, com apenas 25 anos de vida. Mas eu confio na capacidade do povo e do cidadão brasileiro. Temos é q fzer nossa parte, denunciar, se indignar, procurar os canais certos pra protestar e tentar ajudar a mudar as coisas. Belo texto Will!