quinta-feira, novembro 09, 2006

Saiba onde pisar

Chiapas: Centro Zapatista
Chiapas é um estado pobre, com uma população de 4.255.790 habitantes, composto por 90% de índios com grande diversidade lingüística de origem maia (chol, tojolabal, tzeltal, tzotzil, mam e lacandón).

Um povo marcado pela exploração e pela opressão de brancos europeus, que resiste para que sua cultura, língua e costumes não sejam extintos pelo fato do governo federal não garantir os direitos constitucionais indígenas.

Todo o movimento encontra-se em Alerta Vermelho pelo fato de Oaxaca estar imersa em grande crise e porque o futuro deste estado trará conseqüências a Chiapas. Isto quer dizer que todas as organizações zapatistas estarão fechadas para informações e visitas até segunda ordem dos comandantes.

Início do EZLN, os MARZ e as Aguacalientes
O nascimento oficial do Exército Zapatista de Liberación Naciol - EZLN, deu-se no dia 17 de novembro de 1983, quando seis insurgentes (cinco homens e uma mulher) instalaram-se na Selva Lacandona (Chiapas) com o objetivo de iniciar um movimento revolucionário. Durante dez anos, o Exército Zapatista organizou-se de forma explosiva: aprendizagem de táticas e estratégias militares, manuseio de armas de fogo, recrutamento de combatentes, formação política.

No ano de 1993, o movimento passou a ser conhecido mundialmente. Às 24 horas do dia 31 de dezembro do mesmo ano, o EZLN ocupou diversas entradas e saídas de cidades e tomou dois grandes quartéis militares do Estado de Chiapas, iniciando uma guerra contra a organização social vigente e pela soberania dos povos indígenas. O ato desencadeou-se sob a desprevenção do Governo Federal que estava preparando a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da América do Norte.

O surgimento dos Municípios Autônomos Rebeldes Zapatistas – MARZ - deu-se após a tomada de algumas cidades, paralelamente ao processo de independência dos poderes oficiais. Nasceram, assim, novos poderes com diferente forma de organização.

Em 1994, o EZLN teve a tarefa de construir espaços para facilitar o contato político e cultural com a sociedade civil a fim de difundir o ideal zapatista e amplificar o alcance dos futuros trabalhos a serem realizados. Logo de imediato, o Exército Federal avançou sobre as posições zapatistas e tomou a comunidade de Guadalupe Tepeyac, destruindo-a e construindo ali um quartel general.

Em 1996, porém, o EZLN convocou a sociedade civil a fundar novos aguascalientes como forma de resistência e rebeldia popular, iniciando assim a transmissão da responsabilidade pela luta a todos os moradores de Chiapas, delegando-lhes a construção da revolução no país.

Nasceram, assim, 5 aguascalientes: Aguascalientes I (La Realidad), Aguascalientes II (Oventic), Aguascalientes III (La Garrucha), Aguascalientes IV (Morelia) y Aguascalientes V (Roberto Barrios), todos empenhados na organização de iniciativas zapatistas de diversas naturezas, como o Primeiro Intergalático, Fórum Especial para a Reforma do Estado, Fórum Nacional Indígena, Primeiro Encontro Americano contra o Neoliberalismo e pela Humanidade, Encontro Nacional de Comites Civis para o Diálogo Nacional.

Caracóis, Juntas de Bom Governo, a Sexta Declaração e a Outra Campanha
Após profunda reflexão, ao verificar um vácuo entre as aguascalientes e os 27 MARZs e também o distanciamento da ação em relação à sociedade civil mexicana e internacional, o EZLN celebrou nos dias 8, 9 e 10 de agosto de 2003 o nascimento dos primeiros Caracóis e suas Juntas de Bom Governo, em substituição às extintas aguascalientes. Os Caracóis são pequenos estados regionais que agrupam entre dois e sete municípios autônomos cada, com o objetivo de tornarem-se centros civis do movimento zapatista. A competência das Juntas passou a ser implementar programas de produção de comida, saúde, educação, através de deliberações realizadas em assembléias com a participação de toda a população.

Em 28 de junho de 2005, o EZLN tornou pública a Sexta Declaração da Selva Lacandona, que teve por objetivo realizar o levantamento histórico do movimento, apontar suas diretrizes, chamar os trabalhadore do campo e da cidade, os estudantes, professores, crianças, jovens e idosos, todos os mexicanos, desde que fossem de esquerda, anticapitalistas e antineoliberais, para, em conjunto, elaborar uma proposta não eleitoral, levantar os anseios populares e positivar uma nova constituição. Na sexta declaração, há uma forte crítica ao sistema capitalista e suas conseqüências sociais. O movimento estende a necessidade de lutar pelos direitos dos índios a todas as minorias. A partir do dia 1 de janeiro de 2006, o EZLN iniciou a marcha conhecida por Outra Campanha, que percorre os 31 estados do México. Os comandantes encontram-se, hoje, no norte do país, dando continuidade à passagem que foi realizada no sul e centro do México.

A grande diferença do movimento zapatista é a sua organização horizontal, sem hierarquias e uma grande rotatividade nas cadeiras de seu governo. Não há eleições, nem propagandas políticas, apenas escolhas por parte das Assembléias. O poder das mulheres é igual ao dos homens (47% dos que compõe os 100 zapatistas do Comite Clandestino são do sexo feminino. Este comitê é a instância superior do EZLN, no qual se reúnem os comandantes e comandantas). A divisão do trabalho é decidida por todos, e os meios de produção são do coletivo. É um movimento que não luta pelo poder, mas constrói espaços paralelos ao Estado oficial.

Leia o especial LATINAUTAS, com a íntegra dos relatos e comentários sobre a expedição "Da América para as Américas". (Leia aqui)

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