segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Fura Fila -> VIP (Yes, Sir... No, Sir!)

Meu preconceito contra o conceito de VIP me deixou intrigado. A argumentação do grande pequeno Murari me fez repensar o tema. Será natural me contradizer no texto, afinal estou revendo o meu "preconceito".

Tentarei me enforcar um pouco mais no meu próprio anti-elitismo e combate ao auto-favorecimento em detrimento do próximo. O qual poderia se justificar pelo preconceito social já sofrido na minha medíocre vidinha. O que também me permitiria ser preconceituoso, socialmente dizendo. Mas seria muito infantil. Concordo em gênero, número e grau que o preconceito é ridículo. Porém, quem nunca foi ridículo, que atire o primeiro tijolo. Ou seja, sou preconceituoso sim, hipócrita não.

Sempre me incomodou o tal “Você sabe com quem está falando?”, muito utilizado pelos babacas sustentados por uma posição social, por uma farda, cartão, dinheiro ou qualquer bosta que faça a pessoa se sentir no direito de tripudiar em cima dos seus semelhantes. E nessa ótica, é possível que o meu preconceito se manifeste contra a hipocrisia, e também se manifesta no sentido de crer e agir como se nenhuma pessoa mereça atendimento diferenciado.

Quanto ao tratamento especial que algumas pessoas necessitam, compreendo como algo circunstancial. Ou acabaria tachando-as como babacas também. Em especial as quais possuem algum tipo de limitação motora ou mental, etc. O que ao meu ver não é tratamento especial e sim uma flexibilidade necessária para integrar todos.

O bom senso, respeito e amor ao próximo, são os meus principais valores que sustentam o meu preconceito social. Visto que a argumentação baseada em valores humanos hoje é algo que beira à ingenuidade e ao romantismo.

Recorro novamente à etimologia:

VIP (da expressão inglesa very important person tradução literal para "pessoa muito importante"), é uma sigla que designa uma pessoa importante, influente, um alto funcionário com privilégios especiais.

Preconceito é uma atitude discriminatória que se baseia nos conhecimentos surgidos em determinado momento como se revelassem verdades sobre pessoas ou lugares determinados. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são o social, racial e sexual.

Preconceito social é uma forma de preconceito a determinadas classes sociais.

É uma atitude ou ideia formada antecipadamente e sem qualquer fundamento razoável; o preconceito é um juizo desfavorável em relação a vários objectos sociais, que podem ser pessoas, culturas.

Logo, o conceito de VIP não é algo que eu considere danoso a sociedade, pelo contrário, é necessário. Quanto a distinção entre pessoas “iguais” em locais públicos mediante pagamento, não considero saudável. Num primeiro momento devido à diferenciação que não possui argumentos além da condição econômica. Acho simplesmente ridículo favorecimento em função da grana. Não sou psicanalista, mas se a “vantagem” alimenta o ego no sentido de imaginar-se melhor que o próximo, é então, aí que cabem as minhas mais duras críticas e até o ceticismo.

Também posso entrar na questão semântica da coisa. Tomando como exemplo um jogo de futebol. Existem diferentes preços para diferentes posições e acomodações dos torcedores. Pois bem, os melhores lugares, com os melhores ângulos de visão do campo são mais caros. Poderíamos encaixar no mesmo conceito VIP? Sim e não. É aí que entra a semântica e a circunstância.

Quem pode pagar mais, é por que trabalha mais e ganha mais? Por que a maioria espera na fila e o outro entra pelos fundos? Qual a prioridade entre semelhantes, quais as regras, como se classificam?

Pois bem, que eduquemos nossos filhos com os preceitos de que sucesso é grana e, grana é o passaporte que abre todas as portas. Justiça, sócio-democracia, igualdade, fraternidade e o que dizer da tal liberdade e direitos e seus respectivos limites?

Me desculpem, mas o intolerável é a petulância dos arrogantes egocêntricos já catequizadas ao neo-liberalismos-destrutivo. E que merda eu continuar crendo que podemos viver melhor nesse mundo que criamos com nosso “jeitinho” dia-à-dia.

Ainda vai correr muita água embaixo das pontes dos “córgos” e barracos até eu assimilar o óbvio dessa cegueira coletiva que diz: “Se você pode bancar, você tem o direito de ter privilégios”.


P.S.: Clique no título para ver uma matéria da CartaCapital sobre o Parque Hopi Hari



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