quarta-feira, abril 25, 2007

Matilde Ribeiro

Às vésperas de mais uma Zeca-Feira, acordo empolgado com o meu primeiro compromisso do dia, assistir à uma palestra da Ministra Matilde Ribeiro sobre o apoio à diversidade. A empresa onde trabalho é uma transnacional que num determinado momento pensou na integração de pessoas com algum tipo de deficiência, diferenças étnicas, diferentes orientações sexuais, etc. Por sua vez, o SEPPIR (Secretária Especial de Políticas Promoção da Igualdade Racial) foi procurado pela empresa para discutir sobre o assunto.
Embora as políticas de RH possuam uma intenção muito coesa ao pensar no "social" objetivando promover uma política contra o preconceito, racismo ou qualquer forma de discriminação nas dependências da empresa, isso ainda é muito pouco quando tratamos da questão racial.
A própria palestra trouxe à tona algumas coisas delicadas. Uma delas pode ser notada pela proporção de funcionários afro-descendentes , inferior à 1% . Ao analisarmos o motivo, inicialmente podemos compreender que os postos de trabalho nesta empresa exigem um currículo onde o candidato deve ter fluência no idioma norte-americano e nível superior. Só este fator, por si só, é um divisor de águas muito grande.
A Ministra falou um pouco sobre sua tragetória de vida e suas militâncias e, sobre o SEPPIR, nos mostrou e provou a necessidade da secretaria, dissertou sobre as minorias étnicas brasileiras - outra vergonha nacional, falou sobre o PROUNI, sobre as quotas para afro-descendentes nas faculdades públicas e também sobre as Ações Afirmativas do governo federal em diversas áreas procurando promover a igualdade racial. A Ministra, sem dúvida me conquistou com seu olhar verdadeiro, determinado e instigante. Não vi ali uma figura política rotineira, vi um ser humano comprometido com sua militância.
Finalmente ela abriu espaço para as perguntas do público, e foi aí que notei os maiores problemas.
Não me senti no direito de fazer a primeira pergunta, afinal poderia causar algum impacto, pois defendo a causa mesmo sendo branquelo (hehehe).
Os funcionários que participaram da palestra demonstraram certa insegurança e desconhecimento das questões raciais - mesmo aqueles que são vitimados.
Uma questão muito interessante que levei de lição de casa foi sobre o "orgulho" e auto-estima do negro. A pergunta se traduzia em: - A política de quotas não nos coloca numa situação vexatória e humilhante?
Aqui eu fecho com a Ministra, a resposta é N Ã O!!!
(Um dia li uma entrevista onde a Ministra dizia: - Antes uma população branca ressentida com as quotas do que a ausência de negros nas faculdades.)
Também não acretido ser nenhuma humilhação. Basta entender quais os caminhos que alguém oriundo do ensino público, pobre e negro, deve percorrer para chegar a conseguir pagar uma inscrição para o vestibular. Vestibular, o qual por si só já é um vexame exclusório.
Tanto a política de quotas como o Prouni, se mostraram necessários na equalização do abismo sócio-econômico que temos por conta da má distribuição de renda e de oportunidades - e claro dos serviços públicos oferecidos a grande maioria. Como foi frisado pela própria Ministra, sonho também com uma realidade brasileira onde não haja necessidade de quotas, de isenção de impostos como permuta para concessão de bolsas em escolas particulares, etc.
Dizer que não existe racismo no Brasil é tão demagógico tanto dizer que o governo cumpre seu papel e faz valer a constituição. Volto à afirmar que a minha pele branca sofreu menos resistência para que eu pudesse conquistar uma condição financeira que me suportasse economicamente a cursar uma faculdade particular (sendo que estudei toda minha vida, inclusive cursinho pré-vestibular em instituições públicas).
Compreendo que os critérios de pontuação dos quotistas não deveriam ser única e exclusivamente racial. Porém, pelo que se pode ver (ao contrário do que os reacionários mal informados pregam), é que as faculdades que adotaram quotas, consideram também a origem do condidato, ou seja, se vem de escola pública ou particular. A avaliação sócio-economica é algo a se estudar.
Embora, eu creia que isso deva acontecer num segundo momento. Pois a própria realidade brasileira não nos deixa nenhuma dúvida sobre a relação racial-econômica da maioria absoluta dos afrodescendentes e índigenas (ponto!)
A valorização do negro, como proposta pela SEPPIR, não é fomentar o conflito racial e sim promover a auto-estima de um povo massacrado e reparar as questões históricas que mantém os negros ainda na senzala da nossa sociedade. Lembrando que a migração desses povos não foi facultativa como dos imigrantes europeus e asiáticos estabelecidos aqui.
Eis o momento de o mercado e a sociedade compreender o nicho consumista dessa parcela majoritária da sociedade. Tal como a contribuição dos mesmos aos cofres públicos. Que mesmo desarticulada, excluída e reprimida, possui expressão nas "decisões democráticas" e que - principalmente - se propõe a buscar alternativas nos âmbitos legais. Embora muitos demagogos enxerguem como um pedido de esmola, a realidade é que o Brasil - conforme o próprio Presidente da República diz - precisa indenizar esse povo.
Fecho este texto afirmando com todas as letras que essa parcela majoritária da população não aguenta mais ver seus filhos lotando o sistema prisional, enquanto as faculdades parecem uma escola "Finlandesa". E desafio quem me provar que a condição dos afrodescendentes no Brasil é genética.
Tanto o hip-hop e o SEPPIR e as milhares de ONGs espalhadas pelo Brasil, procuram o caminho da LEI e do diálogo, um caminho mais complexo, árduo e digno. Pois nunca se esqueça que essa massa, na sua atual condição, tem soldados, armas e muita disposição para o bem ou para o mal.
A SEPPIR ao meu ver chegou atrasada, mas é capaz de evitar problemas futuros e melhorar esse país.
Muito embora, eu continue achando um esculacho termos que exercer nosso respeito em forma de cumprimento cívico, seja com o ECA, com o estatuto dos idosos, ou ter de criar uma Secretaria que trate da promoção da integração racial. Onde o respeito ao próximo e as diferenças necessitem de suporte legal. Mas fazer o quê? Pra tudo precisamos de novas leis, de novas intituições. Nem vou questionar a falência das instituições arcaicas e parasitas.
No meu fone de ouvido ganho um presente do modo randômico, SAY IT LOUD, I'M NIGGER AND I'M PROUD!!!!!

3 comentários:

Unknown disse...

Fala William !!

Fazia Tempo, não!!!

Gostei e concordo com essa sua reflexão, também acho que a política de quotas nas universidades talvez seja o prenúncio de um País mais justo e o começo de uma verdadeira distribuição da riqueza, riqueza essa que está na mão de poucos mais que foi construída ou teve a participação de muita gente

Um abraço e bom te ler de novo

Anônimo disse...

A politica de cotas racias é um contra-senso, uma medida racista em si mesma, ainda mais num país como o nosso onde a grande maioria, esmagadora, é de mesticos! Os EUA erraram e agora estao reparando o erro de 50 anos atrás. Nós continuamos errando. Essa ministra nao vale a sandália que usa nos pés: declarou numa entrevista a revista Veja que nao ve nada de errado nos negros odiarem os brancos, mas sim algo natural. Por favor, acorda Brasil!

Will Wroblewski disse...

Olá Anonimo! Já alguém racista, paga-pau de estadunidense, que folheia revista veja em consultório dentista (pois quem lê compreende), metendo o pau na Matilde Ribeiro, nada disso configuraria um contra-senso. E é exatamente por isso que publiquei o comentário de um "anônimo", além de acreditar que a opinião é muito válida, pois este é o resultado da educação em escolas particulares que formam os "crasse médhia", um bando de pagagaio da rede Globo.

Valeu anônimo, dá próxima vez termine seu comentário assinando no final.