terça-feira, abril 03, 2007

Ignorância é uma benção

João Claudio não acreditou quando viu à sua frente o tal do controlador aéreo fazendo piquete. Olhou em volta e não viu nenhum homem desalmado com cacetete e bomba de gás, mas do seu lado direito estavam os repórteres, carregados até o pescoço de sua arma letal, o sensacionalismo.
Do lado esquerdo tinha um homem de terno, arrogância no olhar, mala suspeita, segurança à tira colo. Sem dúvida alguma, era alguém do governo.
Olhou pra trás como se fosse sua ultima alternativa antes de morrer. E encontrou bem na sua nuca um tal de Descaso, e o Descaso vinha junto com a incerteza de embarcar.
O desespero tomou conta de João Claudio.
Ele tinha por lei, e sabia disso, o direito de ir e vir. Mas as coisas não são bem assim.
Ele queria ir para casa, ele queria um banho, uma comida quente, um beijo de sua esposa.
Mas tudo que ele tinha era um painel. Um maldito painel. A personificação da desgraça com seus alarmes falsos. A cada 10 minutos se emocionava com a tal da esperança de embarcar, mas a frustração lhe tirava a fome.
Calor, angustia, raiva, medo, ódio.
A bateria do celular acabou, seus cigarros também. A paciência permanece, firme, inabalada.
João vê um menino fuçando no lixo. Primeira impressão, medo, depois repulsa, ele é apenas mais um trombadinha, mais um efeito colateral da politica publica de sempre. No auge de sua desgraça pessoal ele se desarma e olha novamente. Olhos marejados, coração emputecido, e uma idéia lhe ocorreu.
Deu sua passagem ao menino. Agora o privilegiado era o menor, poderia conhecer o Rio de Janeiro. Ele não, voltou a ser humano, saiu da fila, já sentia fome. Não tinha mais medo do futuro.
Em troca, ganhou umas batatas fritas do McDonalds, que o próprio menor lhe ofertou, eram do lixo, estavam frias, mas mataram sua fome. E se um dia alguém perguntar se ele concorda com a privatização do controle aéreo brasileiro, talvez ele diga sim. Mas ainda falta muito para que ele tenha coragem para vender balas no semáfaro, nem cogito como será a noite dele nos arredores de congonhas. Mas em algum momento ele vai descobrir qual a cor do Insulfilm pelo lado de fora.

Um comentário:

Caio Calazans disse...

Por um lado vc vê o afinco com que a mídia cobre a crise aérea, quem dera esse mesmo afinco fosse aplicado em outras questões tão ou mais importantes do q essa.

De outro vc tb enxerga q privatização não é a solução, pois é um setor estratégico para o país. Porém o que precisa ser feito é trabalhar com competência.

COntroladores aéreos que não falam inglês são como motoristas de ônibus que tem 20% da visão...

E como sempre, isso acontece no Brasil, o país da PUTARIA.