quarta-feira, agosto 16, 2006

O crime não compensa?

Muito se fala em crime, em organizações criminosas e alguns jornalistas até publicam colunas ironizando o fato de que o politicamente correto é cafona, ou nem falha à pena. Alguns cidadãos obviamente se questionam sobre o fato de serem honestos contribuintes dos cofres públicos. Outros conjecturam sobre o reflexo do sentimento majoritário quando a questão é a honestidade, relacionando sempre com o tal “jeitinho brasileiro”. Os chovinistas de plantão publicam matérias de repúdio a honestidade, este paradigma de fazer as coisas corretamente, com visão humanitária, em prol do coletivo, pelo futuro, por valores, blábláblá.

Se ainda eu estivesse perdendo espaço no circulo social decadente da classe média instaurada desde a ditadura, talvez eu pensasse que ser honesto é uma merda. Que seria eu o prisioneiro na minha própria casa. Muros, grades, portões, parafernalhas eletrônicas, guarda privada, etc. Aumento de impostos, taxas, etc. Pensaria que este país é uma verdadeira piada, onde o que determina a classe social é o poder de bancar bons serviços básicos privados, como educação, saúde e previdência. Já que a esmagadora maioria não pode nem contar com os serviços oferecidos pelo poder público. Onde a propriedade e o acúmulo de riqueza não é mais determinante neste processo classificatório. E claro, forjar despesas na declaração de imposto de renda não soa como algo condenável. É a roda da miséria girando.

Na verdade, eu estou no caminho oposto. A “falta de sorte”, mais conhecida como pobreza, no sentido financeiro da palavra, já fazia parte da minha vida antes mesmo de eu nascer. A escalada social é um desafio, nem tão grande, quanto perseverar no caminho do bem, da justiça e de todas as balelas que acredito só para me auto-destruir.

No que diz respeito a criminalidade, propriamente, costumo afirmar que preto e pobre já nasce bandido, alguns até conseguem fugir do estima. Os sociólogos usariam o termo marginalizado. Foda-se é a mesma coisa. Tento, sempre que posso, mostrar que existem outros caminhos aos jovens que enfrentam os problemas sociais que conheço, virando os holofotes dos coitados que se sujeitam a criminalidade cotidiana das periferias, isoladas em sua própria desgraça. Definitivamente, um tênis nike, uma motoca, uma caranga, uns panos de grife e a bonitinha do bairro são conquistas muito pequenas. Ser “o cara” no mundinho, ou ser mais um no mundão? Eis a questão... Afinal pobre também tem vaidade e orgulho.

Em determinados momentos, questiono essa tal honestidade, esta intenção de permanecer do lado fraco da corda. Mas desafio é desafio. Embora a elite seja burra e vulnerável, ainda não quero me sujar com o sangue dessa torpe patota. Ainda não...

Tanto para os abastados que contam com alguma herança, quanto para os menosprezados maloqueiros, deixo o meu recado. Se você quiser ser bandido, de verdade, estude, pense, leia, se informe. A melhor arma é uma mente articulada (Salve Mano Brow!). No mínimo você será um pau mandado de uma empresa qualquer (como eu), e será capaz de compreender a dinâmica das pilantragens com papel timbrado das entidades públicas, ou se tiver coragem e determinação, entenderá que assalto, roubo e tráfico são profissões dos desesperados, não coisa pra criminoso.
Criminoso é o narcotraficante, o assaltante de carro forte, os contrabandistas, os estadunidenses, alguns chineses, a grande maioria dos funcionários públicos, eleitos ou concursados, advogados, militares, padres, pastores, presidentes de multinacionais, donos de veículos de comunicação de massa, fazendeiros, grileiros de terra, etc. E não é possível ser nada disso fazendo “fitinha” de carro popular, ou atravessando bagulhos na esquina.

Hoje em dia, salvas raríssimas exceções, para ser criminoso é necessário afiliar-se à algum partido, ou organização criminosa, ou no mínimo ter negócios com esses caras. Mas se você não veio do gueto, não se engane achando que o toma-lá-dá-cá do PCC é o pioneiro esquema de privatização da previdência social no Brasil.
Não pense que ser militante do MST o deixará numa posição favorável ao cadastramento nos programas assistencialistas do governo. Também não se iluda achando que roubando pouco dará para pagar a propina, o advogado e continuar em liberdade. Ou então você será mais um número para que o Estado justifique um desvio de seis salários mínimos por mês.

Eu, particularmente, continuarei nesse tal caminho do bem. Sendo roubado de todos os lados, sem muita perspectiva nem respeito, mas com a minha cansada esperança, minha desesperada revolta. Pretendo ainda hoje mandar minha contribuição para o extermínio de civis no oriente médio, financiando a guerra consumindo um BIG MAC no jantar, pouco antes do jornal nacional. E quem me garantirá que o crime não compensa?

Um comentário:

Anônimo disse...

Will,
Com eu disse um dia desses atrás, a gente precisa conversar!
[ ],
Seu 'vizinho'.