quarta-feira, agosto 09, 2006

A poesia dos halteres!

Publicado - 23/06/2004 (Coluna Epidemia Urbana)

É comprovado historicamente que a maioria dos revolucionários tiveram origens burguesas, ou no mínimo uma ótima educação formal. Ao constatar a natureza das reivindicações é óbvio que ter ideologia e autonomia para criar, pensar, contestar e transgredir idéias imutáveis e paradigmas sócio culturais, dependem de algum suporte.

Muitos filófofos, poetas e pensadores não saíram do proletariado com sua prerrogativa de simples sobrevivência, nem mesmo tiveram suas mentes esfaceladas pela rotina da busca ao pão de cada dia. É importante citar que até Zumbi dos Palmares foi alicerçado em conceitos letrados diferentemente de qualquer outro quilombola da sua época.

Podemos também repensar o fato de que não é necessariamente a condição sócio-economica ou o talento que cria pensadores, talvez seja o suporte educacional e as circunstâncias, as quais podem determinar o nível de envolvimento e dedicação de pessoas bem intencionadas em causas nobres.
Eis que cada vez mais, temos mais informação e menos tempo, que a educação por melhor que sejam seus moldes e conteúdo, cria seres incapazes de refletir sobre si próprios, por simples definição das circunstancias que a sociedade capitalista no impõe.

É importante lembrar que existem jovens com suporte totalmente adequado, tanto sócio como econômico e cultural para produzirem coisas além de lucro, mas ainda existe o fator do livre-arbítrio, infelizmente.
Existe também a inversão destes fatores quando o livre-arbítrio indica que alguém, que nunca teve os suportes citados, viva em prol do próximo ou pense e realize, produza riquezas verdadeiras para a própria cultura e sociedade. Porém, estes, funcionam como espermatozóides onde, naturalmente, milhões são desperdiçados para que apenas um possa fecundar, quando fecundam.

E de inversão em inversão, podemos entender o que de fato nos incomoda, a desistência própria ou alheia. O fato de orgulhosamente batalharmos contra as adversidades da nossa origem social para termos melhores condições não nos redime. Condições de quê, para quê? Talvez para sermos mais um burguês que luta para continuar a ser burguês, ou para continuar sempre se auto-ajudando a criar necessidades imaginárias de qualidade de vida relacionada ao consumo e ostentação involuntária (muitas vezes), a pretexto do conforto e garantia de futuro, mesmo que isso represente o mais claro egoísmo velado.

Além da elite se abster de suas obrigações históricas, de criar suas próprias cobras revolucionárias, essa elite é tão vazia que não consegue produzir intelectuais, artistas de nível ou seres pensantes. Desta vez a incompetência da elite, e sua própria relação familiar deficitária cria grupos de bebezões marombados que impõem seus ideais amebóides através da força e da impunidade. O escracho auto-destrutivo dos nossos heróis que morreram de overdose, que quebraram tabus e garantiram nossa liberdade de expressão foram aniquilados pelas academias e injeções "bombásticas" de hormônios eqüinos e sintéticos.

De um jeito ou de outro, os seres pensantes continuarão sendo as exceções, nunca a regra.
Será que a asma tirou o Che do caminho das academias?



Wil CdeI
HipHop - Cultura e Compromisso



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