sexta-feira, dezembro 22, 2006

Férias ou INDUTO

Para alguns, o final de ano é motivo de festa, alegria e férias.
Para muitos, oriundos da miséria, férias é apenas mais uma palavra figurativa no dicionário.
A "crasse média" fica toda ouriçada com seu rico 13o. salário, as vendas aumentam, o comércio fatura e o velhinho barbudo da coca-cola faz a alegria de todos.
Não fossem as filantropias que acontecem na favela nesta época, seja ela praticada pelo trafico ou não, aliviam a molecada que é bombardeada pela idéia do "Natal Fraterno". É muito fácil tirar retrato do mundo perfeito, com neve, festas, peru, presentinhos e lindas mensagens. Porém, do outro lado do muro de chumbo, a neve derrete e vira enchente que lava e leva tudo, a festa é das estatística de homicídios, não há peru na cesta que o patrão distribui aos empregados, mas no dia seguinte sempre tem algum "presunto" esticado nas vielas, os fogos acionados por gatilhos ecoam alto mas não brilham no céu.
Reza a lenda que filho de ladrão só fica gordinho quando o pai tá na rua.
O induto, é concedido aos "bons meninos" que o papai noel escolhe para gozar de uma liberdade provisória durante a época de festas. O induto também oferece uma nova chance de deflagrar o místico efeito colateral da sócio-mediocridade brasileira. Circulo vicioso, muro de chumbo que cada vez fica mais estreito, o lado A e lado B estão quase sem fronteiras. A distribuição de renda do mundo cão é feita à mão armada, uma bela poesia onde o 13º do assalariado faz a vez de quem não tem nenhum salário o ano todo através do assalto.

Festas, tempo de alegria, confraternização e é claro... acerto de contas, quem é sabe e, a novela se repete: vários homicídios, assaltos e chacinas. Talvez isso fique claro depois do ultimo 15 de maio. O ódio tem vez no coração de quem nunca acreditou em papai noel, assim como a vontade de começar de novo e fazer tudo diferente, até que novas portas sejam fechadas.

Como eu sempre insisto, as portas só se abrem se você bater nelas. A favela tá cheia de inteligência e disposição, e não deveria criar somente pseudo-engenheiros sem diploma que desafiam a lei da gravidade nos morros com seus barracos voadores.

Sacrifício e fé nunca são em vão quando temos disposição, objetivo e determinação. Cada opção é uma opção, eu respeito, mas lamentação, sem chance. Temos cabeças pensantes que fazem o RAP, temos mentes brilhantes que burlam sistemas de segurança, temos artistas do cotidiano e economistas do caos que sobrevivem com nada e ainda conseguem tomar umas biritas no boteco.

Então este é o meu convite, (esteja você de férias, indulto ou nenhum do dois), um 2007 de tomada de posse, um 2007 de cabeça erguida, onde o primeiro passo se dá com a subtração do sentimento de automarginalização que carregamos, um 2007 onde possamos ocupar nosso espaço de direito, um 2007 que fortaleça a união pela união, não a união para o confronto (mas se tiver que ser...), um 2007 de reinvidicações, com ou sem gritos, pelo direito à vida, pelo direito a dignidade, pela possibilidade de sonhar. Um 2007 de muita coragem, de fé, um 2007 de basta a hipocrisia.



Um salve à todos,

Wil

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